Hoje sinto uma pesada solidão.
Das inúmeras almas que me rodeiam não existe nenhuma que me ofereça um ínfimo de companhia.
Também assim está o meu grito. Calado. A trespassar violentamente os ouvidos surdos que não o escutam.
Percorro, errante, os caminhos sem destino deste labirinto a que chamo mundo.
O universo também decidiu que neste dia não me acolhia como um dos seus filhos no conforto da sua imensidão. Não responde às minhas súplicas, nem tão pouco me revela um caminho para a sabedoria.
Parece que as minhas próprias crenças decidiram virar-me as costas, até que decida acordar da humanidade que subitamente me vestiu.
Sobrou a escrita.
Sem devaneios para descrever, sem aventuras que me impulsionem, nem paixões que nascem, resta a tristeza do momento.
Está na natureza de quem tem carne, repelir a felicidade de vez em quando. Seja porque a vida é cruel, a realidade não é a que esperamos, ou pura e simplesmente porque o acto de ser feliz é contranatura.
Nada mais tenho a confessar. São estes os meus pecados e as palavras também não se querem compadecer de mim.
Não há alento.
Dói esta minha senda solitária…
14 comentários:
Dói, mas às vezes faz falta...se faz!
bom dia
-___-
Bastas vezes, a solidão é dor. Outras tantas, condição. Amiúde, é opção.
Tenho, porém, a certeza que, se fôssemos felizes, verdadeiramente felizes, não seria senão um conceito.
"verdadeiramente felizes"...
Basicamente é isso
Achas que é humanamente possível? Ser-se verdadeiramente feliz?
Sim claro.
Embora isso implique abdicar daquilo que a sociedade nos ensinou a reconhecemos como "ser humano".
Mas como viver em sociedade sem cumprir com regras básicas que nos são impostas, nomeadamente as que concernem ao comportamento humano?
Mesmo que tal seja possível, como viver uma verdadeira felicidade, à margem da sociedade, sendo todos nós (quanto mais não seja, por uma questão de sobrevivência) animais sociais?
Isso é tudo relativo. A nossa mente está limitada por aquilo que conhecemos. As sociedades são diferentes. A nossa ocidental é diferente da oriental e por aí além, assim como a definição de felicidade. E se formos analisar os índios de uma tribo da Amazónia que andam sem roupa no meio do mato, a caçar com arco e flecha, provavelmente são mais felizes que nós.
O segredo está no desprendimento, de bens, de emoções, da própria carne.
Parece fácil dito assim.
"A realidade é uma ilusão, embora bastante persistente"
Concordo contigo na questão das diferenças existentes entre as sociedades actuais. Mas eu sou uma racionalista (extremamente emocional, sem dúvida, mas isso não é para aqui chamado) e, racionalmente, temos que aceitar a sociedade em que vivemos como a nossa realidade. Independentemente das outras, importa aquela em que vivemos. A ocidental. Ou melhor, a portuguesa.
E, na nossa sociedade, subsiste um conceito generalizado de felicidade no qual te encaixas ou não. Ninguém te força a nada, mas tens que fazer opções, que não passam pela liberdade de andar nu e não possuir bens materiais. Passam por escolheres os ingredientes com os quais queres construir a tua felicidade e lutares por esse objectivo. Ou não. Sozinho ou acompanhado. Com mais ou menos bens materiais.
Mas fazes isso ou cruzas os braços, mesmo que saibas que nunca vais conquistar a felicidade plena. Essa, está a um nível inalcançável, não está e não pode estar ao alcance dos seres humanos. Julgo que nem saberíamos o que fazer com ela... Provavelmente, deitaríamos tudo a perder à primeira oportunidade.
Isso remete ao meu comentário que a felicidade plena só se alcança ao abdicar daquilo que a sociedade nos ensinou a reconhecemos como 'ser humano'.
Quanto ao saber o que fazer com ela?
Diria que mudar o mundo, ou simplesmente aceitar a existência como ela é vivendo em total paz de espírito.
Isso entra no campo religioso e nunca conheci um monge budista ou um humano iluminado. Apenas alguns que seguem o caminho da inquietação.
Precisamente. ;)
Dei-me conta, também, que as nossas linhas de pensamento atingiram o mesmo ponto comum, se bem que, cada um, por uma via diversa.
Não estando ao meu alcance mudar o mundo (nem queria, é tarefa assaz complexa, livra!) sinto que, à medida que os anos vão passando e a experiência se acumula, a par das alegrias e desilusões, vou conseguindo sintonizar-me melhor com o que me rodeia. Mais madura e pacificamente, pelo menos, dentro do que é possível em um espírito inquieto como o meu... Absolutamente agnóstico.
Cada pessoa deve seguir o seu caminho, escolhas e conhecimento. Se bem que muitas vezes vão dar a resultados semelhantes. Ainda assim é uma riqueza toda esta diversidade humana.
Espíritos inquietos têm a sina de nunca estar satisfeitos. Consegue-se alguma paz sim. Mas a inquietude é um vício.
Eu estou no outro extremo, do gnosticismo.
A esmagadora maioria das pessoas não escolhe o seu próprio caminho, não faz as suas escolhas, tão pouco adquire conhecimento que lhe seja prazeroso.
Limita-se a seguir o rebanho... E esse é um dos motivos pelos quais tantos se refugiam no mundo virtual, no meu entender. É o escape por excelência dos que não encontram, na realidade vivida, aquilo de que carecem para se sentirem humanos. E "aquilo" tanto pode ser bom, como mau, pois da mesma forma que uns são aqui tão verdadeiros como no mundo real, outros fingem, mentem e prejudicam, dando azo aos seus caracteres duvidosos. (Desculpa, já divago! :P Mas não é essa a razão primeira do livre pensamento?)
Não trocava a minha inquietude por estabilidade espiritual alguma!... :)
Oh! Acho que nunca conheci quem se assumisse gnóstico.
Muito prazer!
A maioria das pessoas faz as escolhas que lhes ensinaram a fazer, boas ou más. Não nos enganemos, também fazemos muitas escolhas assim e vamos continuar a fazer.
O mundo virtual pode ser um escape, ou a manifestação dele. Este canto é um escape. Antigamente os escapes eram diferentes. A verdade da pessoa vem sempre ao de cima, seja aqui, ou lá fora. É a evolução...
Não me assumo gnóstico. Acredito na gnose. Deus é tudo, tudo é o universo e nós fazemos parte desse todo. Somos imensos e insignificantes ao mesmo tempo.
Devo ter por aqui uns quantos textos que divagam sobre isso.
Acredito que muitas escolhas nos estejam interditas, visto serem obra do Destino mas, a maioria, está ao nosso alcance e cabe-nos tão só tomar decisões. Independentemente da vontade alheia, a escolha é nossa. Pessoalmente, não faço fretes, menos ainda quando são assuntos que só a mim respeitam.
Sim, tens razão. A verdade vem sempre ao de cima...
Desculpa, não domino o assunto e "classifiquei-te". E eu já li alguns dos teus textos sobre crenças. ;)
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