quinta-feira, janeiro 05, 2017

Canção do escape


Dedica-me uma música.
Uma qualquer desde que te faça corar quando pensas em mim. Não é apenas uma melodia que te peço, é um pouco de ti.
Entretanto vou ouvi-la repetidamente e imaginar que é o teu abraço e também o teu sorrir. Segue-se uma gargalhada relaxada duma piada seca qualquer.
Materializo-te aqui ao pé de mim. Faço da canção a tua carne. Do longe, aqui tão perto. E surge a vontade de fugir. Seguir sem destino nem regras para cumprir.
Tu em mim e o desejo de me evadir para longe, para uma viagem constante pelo mundo e as suas maravilhas, onde o único destino é partir. Simplesmente ir, no silêncio, no amar, no rir, no deslumbrar!
Abençoados sejam os loucos que o fazem. Eu e tu já o fizemos mil vezes na nossa fantasia. Não satisfeitos multiplicamos por mais mil, e outras mil, até ao infinito, porque não queremos um limite nesse destino que é um contínuo escape.
No entanto, como árvores criamos raízes a este chão tão pequeno para nós. Malfadamos o tempo que na sua incompreensão decidiu não nos sintonizar. Em vez disso condenou-nos a cruzar o nosso olhar onde mora o universo inteiro.
Nasceu a prosa em nós com rimas que teimam em aparecer no texto da nossa harmonia. A distância dos deveres separou os nossos cosmos. Ou não! Na essência do nosso ser já nos evadimos desde o primeiro dia em que a criação soletrou o nosso nome.
Seguimos caminho. Sabemo-nos, cantamo-nos, desenhamo-nos na tela da utopia. Em nós vive uma imensidão que só o pensamento pode atravessar. Na quietude, a viagem já vai longa. Ainda assim arde a ânsia de fugir!

1 comentário:

Anónimo disse...

...e a música diz tanto!


bom dia António