Escrevo-te estas palavras, não porque tenha algo a dizer-te, mas simplesmente porque quero expressar os meus devaneios bizarros a alguém, não sei quem. Fazer um desabafo desprovido de julgamento alheio, pois só quem nutre por mim verdadeira amizade não me vai sentenciar pelos meus pecados, ou simplesmente pelas minhas acções.
Não sei o teu nome, tu que te perdes nestas linhas, nem conheço o teu corpo. Tanto melhor. Assim não te avalio. Não és um objecto, nem um mero ser físico derreado sobre o peso de estereótipos, preconceitos ou regras pré-concebidas pela nossa sociedade imaculada (ou degenerada)…
És muito mais que isso. És ideias, sonhos, emoções, histórias para contar, objectivos a atingir, lágrimas e conquistas… És um mundo cheio de vida que partilha comigo este momento onde a leitura constrói uma ligação entre os nossos intelectos e o anonimato fortalece o nosso laço.
Raramente me expresso sobre a amizade; talvez porque não me sinta dependente dela; talvez por me poder dar ao luxo de usar a solidão como escolha e esta não ser para mim um duro castigo que a vida impinge. Para mim é uma hipótese de me restabelecer da confusão que as pessoas criam à minha volta com as suas banalidades.
Não é que me queixe, até porque ter gente à nossa volta é uma bênção. Aqueles que vivem isolados forçadamente sabem dar-me razão. Também passei por essa estrada.
Só que interagir com os outros, ou melhor, estar dependente deles e do seu afecto pode trazer inúmeros dissabores, desilusões e amarguras. Tudo isto porque esperamos demasiado deles, quando não têm a obrigação de nos reverenciar. Por isso escolhi a alienação. Afastar-me da extrema necessidade de afeição. Assim encontrei a liberdade.
No entanto, não deixa de ser estranho que num momento de recolhimento pessoal partilhe contigo, meu amigo, este pensamento transcrito nesta carta. Que nada mais é do que uma troca em que ofereço as palavras e tu a compreensão (ou aceitação).
Agora, a ti, que não sei quem és, deixo-te o meu Bem-haja pelo tempo dispensado e a atenção que me dedicaste. Quem sabe um dia não poderei retribuir…
1 comentário:
É muito importante para o leitor o reconhecimento do seu papel fulcral pelo autor. Neste, é indício de modéstia; pouco usual em ti, por sinal.
Enviar um comentário