domingo, abril 02, 2023

Que as mulheres não me interpretem mal...


As mulheres que amei quando era jovem estão todas velhas!

Não me refiro àquela velhice decrepita, cheia de rugas profundas e deformações corporais. Nada disso. A beleza física mantém-se, mesmo a rasar a meia idade. Silhuetas firmes bem delineadas, a servir de guarida a uma pele macia e bem cuidada. Aparência irrepreensível, como se quer numa mulher moderna e dona de si. Nada contra, pelo contrário.

Falo da vulgaridade do dia-a-dia. O espírito de aventura foi trocado pelo zelo do lar. As corridas na natureza substituídas pelo exercício no ginásio da moda. As conversas flutuam entre o preço das compras, as mazelas que vão aparecendo aqui e ali, ou o enredo da novela. Tudo nelas gira em torno de rotinas mundanas. Nada mais, só isso. São de uma banalidade violenta, chata, enfadonha, deixando-as completamente desinteressantes.

Olho-me ao espelho e reflicto. Talvez o meu género masculino não tenha deixado crescer o petiz dentro de mim. Uma criança endiabrada a fugir das responsabilidades adultas. Também as tenho, mas não sou dominado por elas. Se calhar o erro está em mim, ou não. Abomino a ideia de seguir o caminho que a maioria segue. Eu amo o infinito. As incógnitas escondidas do Universo. Preciso de inquietude para saber quem sou.

A mudança é inevitável. O tempo traz consigo as escolhas que nos transformam. Cada um de nós percorre um caminho diferente. O que para mim é tédio, para os outros pode ser infinitamente gratificante. Olho para os homens com quem elas decidiram partilhar a vida, no conforto da família. É possível terem encontrado um equilíbrio. Ou simplesmente encontraram uma satisfação acolhedora.

Dou por mim a fazer comparações. Sem julgamentos. Apenas uma certa necessidade de compreender o crescimento humano. Sou diferente deles, com certeza. Na minha natureza observadora não deixo de sentir simpatia por quem faz o que é suposto fazer. A sociedade tradicional assim manda. Afinal de contas somos bichos e até os animais se confortam entre si. Ainda bem que assim é.

Deixo o meu enigma para depois. Tenho outros amores à minha espera. Seja nas palavras que escrevo, nas cores da natureza, na arte que consumo, ou nos corpos de outras mulheres que me cativam com o seu próprio mundo. Ofereço-lhes também um pouco do meu, nestes encontros de quem não tem amarras. Cada um leva um pouco do outro. Talvez seja outra forma de criar pontes. De viajar. Ou até mesmo de crescer.

Ironicamente, ao ler o texto do início, não me parece assim tão original. Já houve alguém que escreveu sobre isto e chegou a conclusões semelhantes. Paciência. É sinal que não estou assim tão à parte. Mas não devemos ser muitos. Uns nas ciências, outros das letras, todos com as suas utopias. Deduzo ser algo natural, haver quem se ocupe dos mistérios da existência. Mesmo sendo inútil fazê-lo.


Sem comentários: