quinta-feira, maio 20, 2021

Ode aos que odeiam

Podia dizer-te que o ódio vem dos outros. Mas isso era mentira. O ódio é uma coisa que nasce no âmago do teu corpo. Uma hormona qualquer produzida pelo próprio diabo que vai subindo até ao cérebro, consumindo os recursos que deviam ser gastos para evoluir. 

O ódio toma conta do corpo com a força do próprio inferno. Corre pelas veias, violento, sem responder a argumentos de dissuasão. Assustada, a tua consciência foge para um esconderijo esquecido numa zona longínqua da mente. 

A sabedoria cala-se, já que os seus conselhos são inúteis. A lógica desaparece. Tudo o que resta são instintos grosseiros. Resquícios do animal que o ser humano já foi antes de (supostamente) evoluir. Um bicho sem conhecimento dos sentimentos nobres que elevam a alma. 

O ódio faz surgir uma nova versão tua. Alguém que desconheces. Não se trata de uma transformação de personalidade. Pelo contrário! É sim, a autodestruição daquilo que conhecemos como sendo a nossa pessoa. 

A Paz, se algum dia a sentiste, desapareceu na memória como um sonho distante. E se, por algum acaso, essa dita Paz vier à tona do pensamento num dia de nostalgia, vai servir apenas de combustível para inflamar ainda mais a tua raiva. 

Vai chegar um tempo em que tentas recordar como é a alegria. É difícil. Vai ser apenas uma palavra num dicionário inútil da tua língua materna. Ou de outra língua qualquer que deseje transcrever esse sentimento bizarro no sentir de gente revoltada. 

Depois, saberás que te perdeste algures no caminho. Viraste numa esquina errada. Não encontraste a companhia certa. Aconteceu não sei o quê. Vais querer saber de ti, mas não vais encontrar respostas sobre o teu paradeiro. 

O ódio moldou-te a consciência à sua imagem. Vais sentir nojo. Muito nojo. Dos outros. Daquela coisa que fez nascer em ti essa semente raivosa. E de ti! Principalmente de ti! Porque te deixaste levar pela ausência de Amor. Porque és menos do que um dia desejaste. Tudo por culpa desse ódio maldito que não te deixa crescer. 

Mas isso é hoje. “Amanhã é outro dia”, como diz o povo. Não percas a esperança. Purifica-te. Limpa essa sujidade do pensamento. Ergue a cabeça com orgulho. Sentes ódio; contudo não és ódio. Algo melhor está por vir. Outro tu está por nascer.


2 comentários:

Janela Indiscreta disse...

Sentir ódio e não ser ódio. Há dias em que uma coisa se confunde com a outra. Mas é como escreveste. Algo melhor há-de estar por vir.
Bom fim de semana

Jeanne disse...

olá, estou conhecendo agora teu blog e já te sigo. O texto me fez pensar, não tinha pensado desta maneira. Mas de qq maneira nenhum sentimento nos define, é como vivo e como penso também. Te convido a conhecer o meu blog e me seguir, abraço.