Por vezes imagino-te como um ser transexual. Dividido em múltiplas identidades, livres de qualquer estereótipo ou preconceito. Corpo desenhado numa aparente confusão assexuada sem pudor, nem o mínimo objectivo de fazer qualquer sentido.
Desmonto-te e remonto-te com novas peças coloridas nos vários tons de pele, partes masculinas e femininas, transgénero. Gordura e magreza; fealdade e beleza; perfeição e grotesco. Acrescento também partes de bichos como nas lendas de outrora. Reinvento-te de todas as maneiras possíveis e imagináveis, como uma criança brinca com lego.
Suponho que é assim que Deus monta todos os seres humanos, como um brinquedo com peças de encaixar. Imagina, constrói e dá vida à sua história. Nós, variações da mesma personagem reinventada vezes e vezes sem conta. Aparentemente conscientes no comando dos nossos julgamentos.
Depois, refugio-me a ponderar sobre estes meus pensamentos estranhos e sobre aquilo que verdadeiramente nos define como humanos. Um pedaço de software instalado num hardware. Um robô de carne e osso a tomar decisões estabelecidas pela programação matemática designa o nosso suposto livre arbítrio.
Recentemente li um estudo que dizia que o cérebro toma as decisões mesmo antes de termos consciência delas. É tão estranho!
Claro que estas conclusões tiram toda a ideia de romantismo à existência.
A própria ciência diz que o futuro já passou, nós, simplesmente é que não nos lembramos dele. Isto deixa-me a questionar: porque é que eu tenho compreensão de mim mesmo? Se afinal tudo já está pré-programado e até acontecido.
Qual é o sentido, para alguém que não passa de um figurante num jogo cósmico, ter noção de si mesmo?
Apesar de tudo gosto de acreditar que nós somos algo grandioso. Tu e eu como um só e tudo o resto como nós. Tão gigantes como o pó e tão pequenos como as estrelas!
O teu corpo feito de tantos outros, baseado numa única ideia. Todas as bocas vão dar à tua alma pelos caminhos do prazer e da dor. Eu húmido, tu erecta, na mistura dos sentidos para lá do que o corpo dita. Engolidos pelo fascínio daquilo a que chamam amor.
Encontramos a nossa casa no que é bizarro. Fugimos pelas veredas do impossível e ficamos no mesmo lugar, cingidos à nossa aparência, sem que nada mais importe apesar de tudo importar!
1 comentário:
Acho que prefiro acreditar que o futuro ainda está por vir e que o meu cérebro só toma as decisões quando eu lhe dou todas as premissas... prefiro a vida mais romântica :)
Gostei de ler.
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