Mas afinal, o que sei eu de gente?
O bicho homem glorifica-se porque, na sua evolução, alcançou o dom do entendimento. Dominar a linguagem, construir e engendrar, acima de qualquer outro ser vivente, que tem a Terra como lar. Ganhou, assim, a recompensa absoluta da arrogância.
No entanto, diz a lógica de quem se compara em tamanho e inteligência, com o enigma do infinito, que a pequenez é a única afirmação que se pode declarar com o mínimo de certeza.
Mas, se restringir a minha observação da existência aos limites que a sociedade, presunçosa, afirma como serem os canónicos, interpreto-me com o estatuto de semidivindade. Portanto, nada mais admito que a perfeição para mim mesmo. Sendo o que me rodeia um Olimpo imaculado, livre de manchas, ou defeitos. Tudo o resto é despojado de atenção e rejeitado com fúria intolerante.
Depois há os sentimentos, elevados ao estatuto máximo do respeito, mesmo quando fadados ao apogeu da tragédia. Contudo, suponho que seja essa a força motriz da esperança e da crença na humanidade. Nunca esquecer a obrigação de acreditar na felicidade e no amor, mesmo que estes sejam miragens, ou instintos animais para que a nossa prole continue a senda que nos guiou.
Ou talvez tudo isto sejam devaneios e ilusões de um ignorante sem canto onde se abeirar, porque um dia decidiu procurar a verdade nas entrelinhas do viver, até que a realidade se dissipou (ou aumentou para lá dos horizontes da compreensão).
Barbaridades transcritas em palavras ocas. Se as decidisse apregoar ao mundo, certamente haveriam ouvidos para as acolher e outros para as odiar sem medida. Isto, sem que antes questionassem a sua lógica.
É assim que julgo os meus iguais. Entre a confusão de opostos que se foram gerando na dita evolução. Numa réstia de bom-senso opto por não tomar partido. Até porque, não procuro seguidores, nem tão pouco inimigos. Aguardo que lá pelo meio, a minha opinião passe despercebida entre todas as outras. A minha autoridade é duvidosa. Eu próprio me interrogo:
Mas afinal, o que sei eu de gente?
Sem comentários:
Enviar um comentário