sábado, novembro 05, 2016

Aqui no perto


Anda comigo olhar para longe. Este perto que nos acomoda será sempre uma prisão, quando o nosso destino se encontra ali tão longe.
Eu sei que somos malfadados com o dom do descontentamento. Não é aquilo que temos predestinado que nos chama, mas sim a viagem. Olhemos para horizonte e para o que está atrás dele. Este perto não nos satisfaz. Viajemos para essas distâncias, que nos roubam a atenção, nem que seja a sonhar. Vamos à velocidade da poesia, como se esta fosse a nossa estrada e o nosso transporte simultaneamente.
Procuremos silêncios que se transformem em palavras. Visões inacreditáveis de paisagens coloridas pintadas pela inquietação. Poder visitar a pele arrepiada e nela encontrar um pouco de descanso depois da azáfama do gemer. Sabemos que nesses momentos esquecemos a dor e somos mais do que simples "nós próprios". Ainda assim é tão pouco, tão breve, tão gritante o anseio por mais e mais e ainda muito mais.
Há que continuar o caminho. Existem sempre coisas novas em que nos devemos renovar e enganar o desassossego. Mesmo sabendo que vamos voltar sempre aqui, não podemos perder a esperança, ou pelo menos acreditar que ela existe, nem que seja no conforto do beijo.
Somos os diferentes e os iguais. Temos um mundo fora dos outros. O impulso da carne em desejo, com a ânsia igual de amar o que não está aqui. Seja como for, podemos partilhar lonjuras, para que as nossas solidões sejam companhia neste existir absorto.

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