sexta-feira, novembro 18, 2016

Acredito apenas na carne


Se fosses um anjo certamente que as tuas asas seriam negras, para que, com o seu tom lúgubre, escudassem a tua fragilidade.
Se assim fosse, eu, na minha desordem, mutilava toda a tua plumagem com a violência que só o desejo pode explicar. Em toda a ânsia de te ter, arrancava, uma a uma, cada pena do teu ser angelical, como um selvagem, até despir a tua alma.
Desenhava assim uma porta para o paraíso na silhueta da tua brandura. Soltava o teu medo para dançar com o prazer. Nas tuas veias a correr o fogo da perdição, para que te abrisses para mim. Flor desabrochada no orvalho quente do pecado sem castigo.
No entanto, aqui na Terra, onde moram os animais e os nossos olhares se imploram, não creio em seres alados nem em criaturas celestiais. Acredito apenas na carne, na fúria da pele, nos dentes que mordem e na voz que geme. A única verdade é o calar da sensatez.
Sem inferno onde cair nem divindades a pregar a virtude. Tudo se resume ao instinto! À vontade! À intensidade!
Liberta-se o querer e o combate inicia. O arrepiar desnuda o teu segredo! A transpiração! A dor e o gozo! Mostras-te em pleno como mulher! Rivalizas o próprio éden e fazes do teu corpo repasto. Ordenas-me a virilidade e não nego a minha fome sobre a tua perfeição. Nasce o caos! A poesia disfarçada que se vem dentro de nós!

2 comentários:

Imprópriaparaconsumo disse...

as tuas palavras estão cheias de gemidos roucos
:)
Gostei!

Unknown disse...

Um anjo negro nunca te permitiria a ousadia de, impavidamente, lhe arrancares as penas.
Escudar-se-ia com elas. Talvez também te escudasse a ti, quem sabe?... :)