terça-feira, setembro 06, 2016

Enganar a melancolia


Quando cantamos o beijo os demónios que habitam em nós correm até aos nossos lábios. Animados pela tentação, à qual não resistimos, atiçam ainda mais as chamas do nosso inferno.
E nós gostamos! Oh como gostamos!
Se tudo além de nós é tristeza para quê negar a punição? No poço fundo e negro onde jaz a nossa coragem, nasce, por entre o frio, um momento de angústia disfarçado de desejo. Tudo é ilusão.
Mas nós vamos! Oh como vamos!
Conhecemos a dor, aquela perpétua, que vem do nosso ser inquieto. Enganamos a melancolia durante a luz do sol que desperta o dia, tentando negar que somos filhos do cinzento e da chuva.
Ainda assim sonhamos! Oh como sonhamos!
Não temos asas porque já não tememos a queda. O nosso fado é sofrer portanto nada impede a nossa entrega. Temos as cicatrizes, temos a poesia, temos a fantasia enevoada pela vida.
Nesse céu voamos! Oh como voamos!
Cruel é o momento em que acreditamos que a esperança renasce. Agarramos aquela ínfima faísca que diz conseguir matar a solidão com a força enraivecida de quem não tem nada a perder.
Mesmo assim acreditamos! Oh como acreditamos!
Na mentira do nosso toque está a verdade da nossa mágoa. Tão real, perfeito e igual, assim é o nosso desalento. Juntadas as nossas noites surge uma lua cheia de brilho que nos ilumina como a quem é feliz.
Mesmo que seja falso nós amamos! Oh como amamos!

2 comentários:

Red Angel disse...

E nós sabemos amar?

António Silva disse...

Desejamos amar.