Atrás das minhas orelhas cheira a queijo. Se por acaso vier um especialista no assunto, com o seu olfacto apurado, cheirar as crostas húmidas que lá se encontram, dirá, com toda a certeza, que são comestíveis. Mais até. Um verdadeiro pitéu. Um prato de delicioso paladar. Um petisco digno dos mais conceituados restaurantes gourmet. Algo reservado somente para as bocas mais exigentes dos réis.
O lixo imundo acumulado ali durante os vários anos da minha existência, onde, por um motivo de rebelião me recusei a lavar, é-me tido como símbolo do meu triunfo sobre a tirania das regras impostas. Congratulo-me por ser um insurrecto sujo e ignóbil. Um ser asqueroso abaixo da condição animal.
Na minha mais profunda sátira sirvo a minha falta de asseio e repugnância ética numa bandeja e coloco-a à mesa dos altos moralistas para que se indignem com a minha insolência.
Vejam! Todo o meu corpo sabe a rebeldia. A minha mente busca apenas a sabedoria. Não me aquieto em jaulas feitas de conforto. Só me conforma a arte e a poesia no seu desassossego. Procuro apenas caminhos onde os passos são raros.
Os companheiros, esses, vão vindo e vão indo pois o rumo não é igual para todos. Sigo por aí determinado, ainda que por vezes sé me reste a solidão, que, na sua doçura ou amargura, me foi sempre fiel.
Na minha bagagem levo um tesouro feito meramente de sentimentos. Desde a acidez do ódio, até à doçura do amar. Conhece-me assim!
Atrás das minhas orelhas cheira a liberdade!
1 comentário:
Aqui,nestas palavras deixo apenas o meu mais irónico sorriso... irónico porque também ele tem cheiro ;-)
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