terça-feira, junho 23, 2015

Os piolhos do macaco


A certa altura, vais acordar a meio da noite. Em cima de ti vai estar um macaco. Não será muito grande, nem tão pouco muito pesado. Simplesmente estará ali sentado sobre a tua barriga. Naquela confusão inicial do despertar, vais questionar o que é que aquele ser está ali a fazer. Obviamente que o bicho não te responde. Na realidade parece até ignorar-te, desviando a sua atenção para os piolhos que cata do seu pêlo escuro.
Subitamente, avivado pelo cheiro imundo daquela personagem, quando tomas consciência da bizarra situação, tentas levantar os braços para sacudir o animal, mas nada acontece! Os teus membros ficam parados sem te obedecer. Não te consegues mexer! Então o pavor vai começar a tomar conta de ti. Vais querer gritar por ajuda sem o conseguires. Quanto mais tentas soltar a voz mais o silêncio se vai tornar agonizante.
Mesmo sem conseguires falar tens uma certeza na tua mente, aquele símio grotesco consegue ouvir os teus pensamentos. Na gritaria silenciosa em que se transformou o teu cérebro, imploras para que a criatura te dê algum tipo de explicação sobre o que está a acontecer. Obviamente não terás resposta. Somente o medo, esse, vai continuar a crescer dentro de ti.
“De que inferno veio esta criatura?” Perguntas! Nesse momento esqueces que não tens fé e em desespero passas a crer em Deus, a quem recorres por ajuda. Vais começar então uma prece onde imploras por auxílio, enquanto te desculpas pelos pecados que praticaste. Assim é o desespero daqueles que se arrependem por conveniência. Mas nada acontece… O mundo como o conheces transformou-se em terror absoluto.
O macaco, esse, vai continuar a catar os piolhos do seu pêlo, indiferente ao resto. Vai deixar que a alucinação continue e a loucura reclame o que é seu…

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