sábado, janeiro 12, 2013

DEMASIADO SIMPLES



Invoquei uma tempestade tal como um Deus de outras eras. O céu enegreceu com nuvens arrasadoras. Ergui o braço, abri a mão, dei ordem a relâmpagos e trovões que rachassem a noite e abalassem estruturas. Chamei ventos de força devastadora e chuvas impiedosas! Domei energias violentas capazes de assustar qualquer coragem.
Deixei que o som da tormenta manifestasse o meu poder. Eu, que me tornara o dono da semente do caos. Destruidor implacável, insensível ao medo. Arquitecto de incontáveis martírios. 
Por entre os rugidos e uivos daquela intempérie sem sentido, procurei no meu íntimo um pouco de humanidade que me sobrava. Lembrei-me de quem era: mero humano. Submisso aos sentimentos, ao tempo que passa, à carne e ao mundo. Fiquei furioso. Uma raiva extrema entrou em mim fazendo-me soltar um grito irado, de tal maneira que a própria tempestade se afastou temerosa.
Um silêncio leve foi-se chegando, como uma criança curiosa e uma calmaria desceu sobre o mundo. Compreendi a minha missão. Era demasiado simples, portanto, impossível de reparar enquanto se desejam quimeras. Voltei então à minha essência sem o peso de desejos insanos. Pus de lado as tempestades. Cobri-me com a sabedoria fazendo dela minha aliada. E assim, com a Fé dos destemidos lancei-me no meu caminho. 

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