sábado, outubro 20, 2012

DESILUSÃO



- Salve, oh grande desilusão! Tu que te cruzas com todas as pessoas nas esquinas da vida! A ti te louvo, tu que tantas vezes te fazes sentir, quer nas pequenas, quer nas grandes coisas!
O ermita rezava assim, talvez num tom de ironia, ou talvez, na sua loucura. Estava ajoelhado no centro da grande praça, em plena hora de ponta. As pessoas evitavam-no passando ao lado, fazendo com que à sua volta existisse um espaço vazio.
“Mendigo”, diziam uns, “louco” diziam outros, mas todos seguiam o seu caminho circundando o homem. No entanto uma jovem rapariga parou diante dele a ouvir a sua oração. Soluçante limpou as lágrimas que lhe caiam pelo rosto.
- Porque louvas a desilusão? - Perguntou ela.
- Porque a desilusão é verdadeira. Não nos mente, não nos ilude e ainda nos ensina. - Respondeu o ermita retomando a prece logo de seguida.
A rapariga baixou a cabeça, saboreou a ultima lágrima que lhe caia, deixando o rosto seco. Ajoelhou-se junto do homem e acompanhou-o naquela oração, enquanto um mundo de gente continuava a passar, escolhendo ignorar aquela cena intrigante.


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