quinta-feira, dezembro 02, 2021

Eu, que te amo.

Conheci-te desta forma.

Um espírito livre não tem apenas uma imagem, muito menos um só corpo, porque uma história sozinha não basta para tanta imensidão. Tem, contudo, traços comuns a todas as suas personificações. Passeiam-se pela vida como se fossem seres individuais, ligados pela mesma centelha que os distingue de todos os outros. Pequenos pormenores tão insignificantes quanto grandiosos.

Tu és assim.

Talvez não acredites porque o teu fado é duro, desde a semente que te plantou, até que as tuas raízes se entranhem neste mundo tão agreste. Quem sabe não consigas ver a plenitude do azul do céu quando tudo em ti é Verão. Mas eu, que te amo, reconheço a tua poesia em qualquer lugar em que te cruzes comigo.

Cheiras a mar num dia quente.

És praia deserta, com ondas serenas e Natureza tranquila. O teu rosto a contemplar o oceano destaca-se dos demais. Há um Universo inteiro dentro de ti que não cabe numa só vida. Uma juventude antiga que mais parece uma viagem. Gosto desses teus enigmas. Mistérios que guardas na imensidão da tua alma.

És a madrugada vulnerável.

Amas a beleza do pôr-do-sol, apesar de trazer consigo a noite amarga. Termina o dia e abraças a introspeção dos tons alaranjados do crepúsculo. Se existirem lágrimas, guardas para mais tarde, para que caiam tendo as estrelas como testemunhas. Choras em rimas envergonhadas entre um sono leve e sonhos encantados.

Tens sabor de café.

Sorris. A conversa é fácil contigo. Há uma leveza pacífica na tua voz; no teu vestido comprido; na tua silhueta magra; nos adornos peculiares; nos gestos femininos. Sem ocultares as cicatrizes que fazem de ti quem és. A elegância inconfundível do teu rosto assimétrico irradia algo mais que luz. Magia provavelmente. Embora possa ser a paixão a falar.

Vais e vens.

Chegaste, demoraste o teu tempo e foste embora, porque os espíritos livres são assim. Viajantes sem amarras. A percorrer caminhos entre praias, serras e pessoas. Há sempre um local novo a conhecer. Alguém com quem partilhar um pouco dessa essência enigmática, na língua colorida da aventura.

Tens em ti o longe. 

Foste para algures. Já sabia que ias porque olhavas sempre para lá do horizonte, apartada por essa distância inalcançável do pensamento. Contudo, não partiste sem te apresentares. Agora, já te sei reconhecer, para quando voltares com todos os teus nomes e corpos. Todas filhas dessa mesma centelha pela qual me apaixonei.


1 comentário:

" R y k @ r d o " disse...

Um texto livre que me agradou muito ler.
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Cordiais cumprimentos
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Pensamentos e Devaneios Poéticos
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