Já te aconteceu acordar de manhã sem saber quem és, ou onde estás?
Despertar sem memórias numa espécie de vazio incógnito onde não existe mais nada a não ser uma interrogação?
Sabes, aquele momento, enquanto os olhos absorvem a primeira luminosidade, adoptam um instinto inicial e arrastam consigo os restantes sentidos. O corpo, letárgico pelo sono, recupera os movimentos que o adormecer quedou. As recordações começam a surgir como um manual de instruções para o teu próprio ser.
Deram-te um nome e por isso deves ser assim conhecido. Fizeste isto portanto é suposto fazeres aquilo. Gostas destas coisas, logo tens de odiar aquelas. Tudo isto surge num repente empurrado pelos instintos humanos e nunca questionas se todas estas obrigações fazem sentido. São como ordens para cumprir devido a um suposto passado. Para isso acolhes, um pouco de consciência que te é fornecido para completar esses desígnios.
É estranho não é?
Por vezes parece existir qualquer coisa de irreal no viver. Uma imposição autoritária sobre a nossa pessoa. Toco-me mas não me sinto eu. Olho-me mas não tenho a certeza que aquela figura seja a minha.
E se for tudo mentira?
Nunca te questionaste assim?
Se tudo que julgamos verdadeiro não passa de um mero figurino numa tela em movimento?
Talvez tudo faça sentido para alguém, ou para algo, que não suporta o fardo da carne humana. Uma divindade cósmica que as civilizações têm errado em denominar acertadamente. A história daqueles que se apoiam sobre duas pernas é pequena e responde a muito pouco quando comparada com todo o desconhecido.
Aqui, nesta terra onde habitam os que pensam, sentem e sonham, sobra a inquietação a quem ousa perguntar sobre o que é de facto real.
Tu sabes a que me refiro?
Talvez nada seja o que parece ser. Se não fosse assim porque havia o ser humano de questionar se existe algo mais para lá dos sentidos?
Talvez tudo seja o que parece ser. Mas às vezes é tão pouco não é?
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