quinta-feira, dezembro 17, 2020

O triunfo


Línguas, flexíveis como tentáculos, em busca do sabor húmido da boca, do sexo, para dançarem na viscosidade. 

Lábios que percorrem a pele e brincam como crianças onde o corpo em tumulto chama por eles. 

Dentes que mordem porque querem matar a fome e desafiar a dor. 

Gemidos que saltam sem ordem, na liberdade que o prazer ordena. 

As mãos despem o corpo porque a vontade assim o pede. Sentem as curvas desenhadas nos músculos, as imperfeições talhadas pelo viver, o tempo que se quer intenso. Seguram com força o prémio do desejo. 

Os olhos observam a anatomia humana como arte. Seguem nela o mapa erógeno, porque conhecem o destino sempre diferente a cada chegada. 

Depois, há a guerra. Os membros que lutam para manter o seu domínio até à entrega final de quem se rende na vitória. 

Os movimentos conhecem bem a sua função, automática, sem qualquer comando consciente. Acontecem, quase sem lógica, porque é assim que deve ser. Cru. Bruto. Sem pudor. 

O combate intensifica-se até que todos desistam para comemorar o triunfo. 

A derrota não conhece o seu nome aqui, neste lugar, onde a força se manifesta até à explosão dos sentidos de quem se anula. 

Não há um fim verdadeiro. Recomeça logo após, ou então mais tarde, mas recomeça sempre. Batalhas gloriosas onde os heróis não pertencem a nenhum exército, nem obedecem a nenhum general. Eles e elas, são as próprias armas e o campo do conflito. 

Por fim, o descanso faz algum sentido. A serenidade não precisa de dizer nada para acontecer. O acto consumado. O desejo saciado. Os corpos calados unidos por toques frágeis. A alma engrandecida pela essência de ser gente renovada.


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