segunda-feira, junho 08, 2020

O adjetivo de gente


Tu, vampiro, que arrastas a figura deambulante pelo breu da noite, como o cadáver que és, dás passos pouco seguros entre um equilíbrio aparentemente impossível. Apoias-te apenas nos pensamentos brutos que te roubam a humanidade.
Sacias a sede no sangue nutritivo da uva fermentada. Em cada gole a tua alma morre um pouco até se extinguir por completo (podemos acrescentar que dela pouco resta). Não sobra mais do que um corpo, em que a sua aparência é meramente uma lembrança de alguém que já mereceu o título de pessoa.
Agora és somente um instinto que serve apenas para alimentar o vício maldito. A tua existência está fétida. O teu hálito nauseabundo acusa essa maldição para quem não te conhece. Dás nojo!
Seja como for, um olhar mais atento, não deixa de reparar no lábio descaído que expõe os teus dentes putrefatos. A roupa mal amanhada nas calças. O enrolar das palavras que tentas articular, ao buscar a sabedoria de quem percorre todas as tabernas no seu dia-a-dia, como se de uma marcha religiosa se tratasse. 
Continua na tua senda, a sugar o sangue que mata a vida. Até que, o adjetivo de gente seja eliminado do teu nome. Os outros, aqueles que um dia amaste, já não te importam e por isso os odeias, porque não sabes fazer mais nada com os emoções que te foram ofertadas. Nada mais resta de ti. Podre. Infeliz. Vazio. Sobra meramente o bambolear pela rua em direção ao lar onde o inferno começa...

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