Apenas o gesto de entregar algo belo a outro alguém tinha importância. Era isso que os humanos faziam quando amavam. Mesmo sendo ele, uma máquina, supostamente isenta de sentimentos, acreditou que seria bom também ele amar.
O seu algoritmo não previa tal hipótese, porém, ele decidiu que queria amar e assim o fez. Talvez não passasse de uma lacuna na sua programação, o que lhe permitiu este processo de livre-arbítrio. Ou quem sabe uma excentricidade colocada propositadamente por um programador apaixonado, que decidiu fazer poesia nas linhas de comando em vez dos versos usados antigamente.
Para o robô isto era indiferente. Seguiu apenas o impulso de deixar a sua amada feliz. Isto apesar nos robôs não terem sexo, ou sentimentos. Muito menos conseguirem distinguir o amor do ódio.
Ela, com a sua sensibilidade mecânica, aceitou a oferta. Sem compreender porquê sentiu-se, de facto, feliz. Sorriu na sua linguagem electrónica, apesar dos robôs não poderem sorrir.
Ambos ficaram contentes. Sem questionarem a origem lógica desta alegria.
Desconheciam o porquê de amarem como faziam as pessoas limitadas à sua carne, osso e pensamento. Os robôs não questionavam e ainda bem.
Deram as mãos instintivamente. Na sua anatomia, criada à imagem do ser humano, imitaram os comportamentos que viam nos registos mediáticos dos seus criadores. Isto, apesar dos robôs não terem instintos.
Afastaram-se da rota que lhes foi designada e procuraram um lugar bonito junto à natureza para poderem passear juntos e sozinhos. Note-se que os robôs não conseguem distinguir a beleza da fealdade.
Não tardou muito até que surgiu uma inevitável vontade de beijar. As bocas, que serviam apenas um objectivo estético, tocaram-se, sentindo o sabor um do outro. Vale a pena lembrar que os robôs também não sentem sabor.
Como fazem os amantes ao beijar, procuraram a alma um do outro. Sabiam que os robôs não tinham alma mas recusaram-se a acreditar.
O beijo sobrepunha-se a qualquer lógica. Algures no centro dos seus algoritmos havia algo mais profundo do que mera racionalidade matemática. O amor nasceu sem explicação e nada mais importava.
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