sábado, janeiro 19, 2019

Depois do enigma desvendado


Lembras-te do dia em que venceste o caos pela primeira vez?
Tinhas definido para ti a sina da derrota. De tal maneira que te cingiste a ser uma sombra, sem qualquer tipo de vontade. Tal como um ramo caído, a flutuar ao ditar da corrente. Apenas abraçaste a mentira que as regras sociais te reservaram.
Ainda por cima elevaste a tua pena ao estatuto de grandeza e obedeceste: Amar porque é suposto. Trabalhar para ganhar o “pão nosso de cada dia”. Ir de férias como se tratasse de um prémio. Julgar, com tua opinião inútil, traços e condutas de outros, tão vazios como tu, tal qual uma forma de entretenimento.
Eras parte da ilusão e gostavas. No entanto, houve um momento de clareza, daqueles em que enfrentas a verdade olhos nos olhos e em frente ao espelho, abraças a conclusão de que não tens nada a perder. Foi então que decidiste ir ao encontro do desafio, tendo como munição somente os sonhos que julgavas impossíveis e uma réstia de vontade que ias guardando no baú da mente.
Foi esse o momento que até então julgavas impossível. Provaste a iguaria agridoce da vitória. Aliás, saboreaste em grandes garfadas o manjar violento do triunfo e apanhaste-lhe o gosto exótico. Tomaste consciência da tua própria força e domaste as regras do jogo que te subjugava. Soube bem, não soube?
Foste, com o medo calado, na direcção da tua aparente desgraça. Era o tudo ou nada! O fim ou a glória! Coisa nenhuma te travou, ninguém te fez duvidar. Agarraste, com a certeza que nascera em ti, a coroa do teu próprio reino. Mereceste. Conquistaste com dor e fantasia o que sempre te negaram.
Mas não acabou aí. Nunca acaba! O trilho de inimigos pela frente continua, tão imenso como o mundo, tão imprevisível como o mistério. O combate carece de estratégia. Há avanços e recuos. A guerra faz-se de fracassos e sucessos. Tu sabes disso. E sabes ainda mais que também és forte e indomável. Moldaste essa realidade desde aquele primeiro dia em que enfrentaste o caos e venceste. Porque afinal de contas, depois do enigma desvendado, tu és o próprio caos!

3 comentários:

Arthur Claro disse...

Muito lindo este texto, meus parabéns.

Arthur Claro
http://www.arthur-claro.blogspot.com

Janela Indiscreta disse...

Vencemos ou abraçamos o caos?
:)

António Silva disse...

Janela somos o caos...