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segunda-feira, maio 07, 2018
Trovoada de Maio
Há um calor abafado no ar.
Há uma sexta-feira à tarde no fim do horário do trabalho.
Há uma esplanada com gente que relaxa depois de um dia de labuta.
Há nuvens escuras que vão cobrindo o céu devagar. Abafam cada vez mais o ambiente, tornando o calor quase insuportável, ao mesmo tempo que anunciam que em breve vai chover. Ouve-se nas conversas que se cruzam entre as mesas, “está um calor de trovoada”.
Não tarda, vai nascer a tempestade.
Os diálogos começam a divergir apenas nesse sentido e as pessoas vão-se levantando com medo da intempérie que se aproxima.
Um homem mantinha à sua frente uma bebida fresca, rodando o copo lentamente, com a calma de quem espera.
O céu vai ficando cada vez mais escuro. A tempestade está chegar.
“Meu Deus! Que vem aí uma trovoada!” Alguém exclama ao passar. Escuta-se os passos apressados, em fuga, do resto das pessoas que ainda arriscam ficar na rua. Em cada adulto existe um medo irracional e infantil dos relâmpagos e do ribombar dos trovões. Em cada pessoa crescida, existe uma criança assustada.
No entanto, o homem mantem-se no seu lugar. A bebida estava fresca. A boca estava seca. Apeteciam-lhe e sabiam-lhe bem os goles que ia dando. Mas entretanto, continuava a rodar o copo, sem se importar com o negrume sobre si, e a tempestade iminente, que ia assustando os demais.
Dentro do café o empregado olhava-o por detrás dos vidros. Interrogava-se como é que aquele homem continuava ali, sem medo?
Afinal estava calor e ele tinha sede, por isso bebia algo fresco.
A trovoada, prestes a acontecer, não começava. Parecia que também ela esperava, enquanto o homem, calado, continuava a dar goles no copo de bebida fresca, que parecia nunca mais esvaziar.
O sol foi-se escondendo até desaparecer por detrás das nuvens sombrias. Mesmo assim o homem parecia cada vez mais relaxado. Afinal de contas, era sexta-feira à tarde, depois da semana de trabalho. Tinha quase uma obrigação para si mesmo de descontrair e sabia-lhe na perfeição a bebida fresca, degustada em pequenos goles de sabor tropical.
Estava um calor muito abafado no ar.
Era sexta-feira depois do horário do trabalho.
Era um homem sozinho sentado numa esplanada vazia.
Eram as nuvens escuras que tomaram conta do céu.
Era uma trovoada que nunca mais chegava.
E nada mais acontecia…
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