Tenho, na minha existência, um prazer supremo. Quando a labuta diária termina e a tarde me oferece o seu conforto, desfruto, para mim, um momento quase ridículo, em que o mundo me oferece um local solitário, entre a multidão. Dali posso observar as pessoas que palmilham as ruas da vila nas suas vivências mundanas.
Aqui e ali, passa por mim um rosto familiar, que me reconhece naquele canto perdido no Universo, mesmo que à vista de todos. Cumprimentam-me, com mais ou menos entusiasmo. Alguns dignam-se mesmo a parar e a trocar algumas palavras comigo. Sabe-me bem aquela pausa onde posso fingir que sou apenas mais um.
Aqueles, que no meu sítio calado, se atravessam nos meus pensamentos e na curiosidade do meu olhar, fascinam-me com a sua banalidade. Correm ignorantes, ainda assim felizes. Ou conformados. Ou mentirosos. Cada face esconde uma história sem plateia que a oiça. Vão apenas atrás do que é suposto serem.
Remeto-me à quietude do meu descanso, ou melhor, à inquietação da minha mente que teima em ficar atenta ao movimento da urbe. Deixo que me desconheçam, como fazem a todos os outros. Somos imensos, sem que nos saibamos uns dos outros. E no meio de tantos corpos atarefados, quase acredito ser gente.
1 comentário:
Gosto de ser mais uma no meio da multidão. Observas as pessoas e imaginas as histórias.
Enviar um comentário