A névoa que vem do mar foi surgindo lentamente. Aproximou-se quase imperceptível e foi cobrindo devagar o céu azul veranil. Formou-se como um corpo e tomou para si consciência dela própria. O sol, assustado, não ousou enfrentá-la.
Cá em baixo, na terra, aqueles que gozavam o calor foram-se aconchegando a uma qualquer peça de roupa, violados pelo frio húmido que a penumbra trazia no seu manto. A pele arrepiou como quem sente medo. Hoje, a noite, ia chegar cedo…
Fez-se o convite àqueles que estavam alegres a se recolherem ao conforto do lar, como quem lembra o inverno. O relógio ainda marca uma hora não tardia. Mesmo assim, a neblina, essa, declarou-se suprema, acima da sabedoria dos homens.
Pouco mais havia a fazer senão tentar ignorar as sombras no conforto de um refúgio. Quem assumiu a coragem de enfrentar aquele crepúsculo agreste, encontrou apenas apatia. O sentido da vida perdeu-se em pensamentos vazios.
A verdade calada do anoitecer seria vencida pela senda humana. Algures, o chamamento da comodidade e da luz acesa em casa havia de se fazer ouvir. Até lá, o marasmo do silêncio, a penetrar na alma pela carne enregelada, permanecia.
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