quarta-feira, fevereiro 08, 2017

Habitar outros pensares


Tenho um desdém absoluto por pessoas banais. Daquelas cujo único propósito na vida é esperar pela sexta-feira, sem pouco mais querer da existência. Contentam-se com as férias, o futebol, as novelas e outras tantas formas de entretenimento imposto. Dão-me asco!
Não suporto quem não é capaz de ter uma ponta de individualidade. Sem nada que os distinga verdadeiramente do resto da carneirada. Sempre que os encontro, arrumo-me para o lado para não sentir o cheiro a nada. Caso insistam na minha presença, enxoto-os a pontapé, como quem expulsa um enjeitado, gritando injurias no sentido mais bruto da ofensa.
Contudo, tenho de aceitar o facto que esta gente é essencial para completar o quadro da nossa sociedade. Pequenos pixéis, que sozinhos nada valem, mas em conjunto formam uma mancha enorme. Ao ponto que, pelo seu elevado número, constituem uma maioria que define a palavra normal. Nojo!
Ainda que, também eu, faça parte dessa imagem social e seja visto como mais um ‘quadradinho’ por quem se julga maior. Estes, lá porque são os primeiros dos carneiros, de mim nada sabem. Faço questão de me diferenciar, nos pequenos gestos, nas palavras proferidas, no meu próprio tempo, no caminho percorrido!
Assim segue o rebanho. Por vezes, protestam contra tudo. Mesmo contentes com a sua rotina e conforto, ao qual retornam depois de se queixarem a ouvidos que só escutam outras línguas. Lá ficam felizes porque a sua reclamação não foi ouvida e os seus hábitos ficaram iguais, tal como o futebol, as novelas, o dinheiro e o sagrado fim-de-semana. Se por acaso alguma coisa se altera, é tão ligeira que se compara com a insignificância.
Depois existem os outros. Os deslocados. Os 'semelhantes' que em nada se comparam a quem passa nesta romaria. Os eremitas, como eu, no esconderijo das suas particularidades, assistem a tudo como se tratasse de uma visão longínqua que pouco importa a quem habita outros pensares.
Tenho um desdém absoluto por pessoas banais, porque, no fundo, existe em mim o mais puro dos medos de me rever neles!

2 comentários:

Anónimo disse...

Nunca me importei que me olhassem de lado...no dia em que me sinta mais um produzido em série...certamente já estou morto!

compreendo-te


mas não faltam por aí meninos e meninas a segurar a corda, que os levarão ao circo, aonde podem comer pipocas e beber umas gasosas!

abraço

Lirio disse...

Não me enquadro... sou irrequieta de natureza.