O pai natal esgueirou-se pela chaminé abaixo. Ao contrário do que dizem não é um homem gordo. Pelo oposto. A sua anatomia mais se assemelha a uma qualquer espécie de lagartixa esguia, cujo tronco alongado e estreito leva agarrado a si dois pares de membros igualmente ressequidos. A idade, essa, sem dúvida tão avançada que o próprio tempo já se encarregou de a fazer esquecer, é a única verdade acerca do velho das barbas.
O corpo mirrado, de aspecto tão bizarro faz esquecer que um dia carregou a pele da humanidade. Quem sabe se as rugas, animadas pela eternidade, o foram tomando até ao expoente da magreza. Ou melhor. Fizeram evoluir (ou regredir) a sua figura a um ser rastejante e ignóbil que em comum com a ideia que temos da sua aparência não tem nada.
Não tem necessidade de roupas. A sua epiderme enrijecida é o suficiente para garantir o seu conforto. Deixa as vestes e adornos vermelhos para as pessoas. Essas que cuidem dos enfeites e da ilusão das suas feições bem-dispostas.
A sua verdadeira imagem, repugnante, serve somente para assustar as criancinhas, que iludidas com o pançudo das barbas se deleitam com as prendas oferecidas em seu nome. Ainda assim, a pobre criatura vai descendo a chaminé. Rastejando até abaixo para se certificar que todos estão felizes no natal. Assim é!
Os outros. Os infelizes, não importam. Tal como ele. Resta-lhes o esquecimento. A solidão. Ou talvez a sorte traga uma migalha que surge aqui e ali, pela mão de uma qualquer alma caridosa. Assim escrevem-se as boas-festas.
Mais uma casa com abundância. Ainda bem. O pai-natal fica feliz. Com o seu corpo de lagartixa volta a trepar a chaminé. Outras famílias se reúnem e a noite ainda agora começou…
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