Imagina-me!
Os traços do meu rosto, a minha pele, as minhas rugas, a minha idade… Visualiza na tua mente todos os contornos da minha aparência. Serei um velho repleto de sabedoria? Uma criança inocente a aprender os segredos da vida? Ou simplesmente o maluquinho da aldeia a quem ninguém liga com as suas palermices?
Vá lá, deixa que a tua imaginação me descreva. A minha altura, as minhas roupas, as minhas banalidades, o meu sexo! Homem ou mulher? Quem sou eu? Uma bruxa vil e malvada? Uma menina de coro numa demanda para fazer o bem? Ou simplesmente uma sonhadora?
Há tanto por onde escolher. Diz-me como me vês? Tanta gente no mundo, todos diferentes no físico, ideais, religião, posses e outros mil e um pormenores que tornam cada individuo diferente do outro. Serei uma pessoa rica a exibir os seus luxos? Um mendigo invisível numa rua movimentada? Ou simplesmente um qualquer ninguém?
Conta-me o que o teu instinto te diz. Serei humano? Não existe qualquer obrigatoriedade em sê-lo. O limite daquilo que sou é proporcional ao da tua criatividade. Portanto não tenhas medo de me conceber como muito bem te apetecer, sem qualquer tipo de barreiras. Serei um espectro a vaguear pelo mundo? Um animal que olha para as pessoas sem que estas se apercebam que também tenho entendimento? Ou simplesmente um acaso do destino sem qualquer tipo de lógica?
Quem sabe até se sou a tua própria consciência a tentar acordar-te do marasmo em que te aconchegaste. Assim, no quentinho, confortável, rotineiro… É tão bom, não é?
Sim! Estou a falar para ti!
Não tentes ignorar-me porque eu sei o que se passa dentro de ti: o teu coração, os teus sentimentos, as tuas lágrimas, as tuas paixões e conquistas.
“Como posso eu saber”? Perguntas tu.
A resposta é simples. Porque tu me mostraste. Disseste-mo através do choro que tentas esconder; do teu sorriso tímido arqueado pela paixão; na forma como o teu corpo fica irrequieto quando algo te atormenta; pelo brilhar dos teus olhos quando algo te emociona; mas principalmente, pela porta que me abriste directamente para os teus sonhos!
Ah! Como são belos! Devo dizê-lo com rasgado elogio. Adoro passear por eles sempre que adormeces. Faço-o como quem busca um tesouro, ou como quem o encontra. Pois, por vezes parece uma aventura perder-me nos teus sonhos, outras, faço-o por pura contemplação, tal como um monge em meditação profunda, ou um artista que aprecia uma obra de arte.
Mas não penses que o faço apenas enquanto dormes. Porque a melhor parte do sonho humano acontece quando se está acordado. Sabes bem disso, não sabes? É por esse motivo que me fascina o teu despertar!
Ainda duvidas sobre tudo que sei a teu respeito?
…
Pois bem, quem sou eu então? E o que pretendo de ti?
Questões seguidas de questões… Quanto à primeira deixo ao teu critério. Imagina-me! Pois a imaginação abre as portas do instinto. És livre de me idealizares como quiseres. Tanto me faz, desde que o faças!
Quanto à segunda, a resposta é simples: Quero inquietar-te… Roubar-te da tua vida banal. Dos teus risos vazios e choros inúteis; dos dias preenchidos com o enganar do tempo, à espera que ele passe na esperança cansada em dias melhores!
Quero que sintas o caos!
Desejo que sintas o sangue a ferver e saias para o mundo, não para fazeres o que os outros fazem, mas para seres tu, a irradiar esses sonhos que escondes dentro de ti, com tanta vergonha. Para os cumprir, como uma explosão avassaladora que arrasa toda a Terra!
Quero que sejas o caos!
Quanto a mim. Seja lá o que eu seja. (Reitero a ideia que deves ser tu a imaginar-me) Anseio apenas ser o narrador dessas aventuras. Um pedido simples, ainda que tenha o seu “je ne sais quoi” de excêntrico. Compreendo que penses assim. No entanto, todos temos as nossas pequenas extravagâncias e esta é a minha. Não me tomes por alguém louco, sei que não o farás, mas também não perguntes o porquê. Aceita apenas.
Por agora despeço-me, com a certeza de que em breve voltarei…
4 comentários:
Nunca, mas mesmo nunca poderás ser "um acaso do destino sem qualquer tipo de lógica"
Achas mesmo que existe algo neste mundo que seja desprovido de lógica, mesmo que não a vejas?
PS. Gostei deste texto :-)
Cientificamente falando claro que tudo tem lógica, mesmo que não se conheça.
Poeticamente falando, por favor, que existam muitas coisas sem lógica para me darem criatividade!
Obrigado :)
Hum, talvez utilizasse algo com um conceito mais forte e abrangente do que "cientificamente". Talvez... Cosmicamente!
Em relação ao mundo poético não me atrevo a afirmar nada em contrário à tua vontade, até porque seria ilógico da minha parte...
A ciência e o cosmos têm uma relação amorosa das complicadas.
A ciência tenta compreender o cosmos mas este faz-se difícil e continua a fugir.
É possível que um dia se casem, mas aí, possivelmente, deixa de haver poesia.
Não quero isso ;)
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