Se eu fumasse este era daqueles momentos em que te pedia um cigarro.
Sentava-me ao pé de ti e dava uma passa longa enquanto o meu corpo relaxava calmamente. Deixava passar um ou dois minutos de puro silêncio. Coisa pouca para o tic tac do relógio, no entanto, para nós uma eternidade onde os nossos nadas conversavam calados. Ia saber tão bem...
Depois, com a nicotina assimilada, quebrava o silêncio:
– Qual será o próximo estágio da evolução humana?
– Porque perguntas isso? – Questionavas com a tua mente banhada simultaneamente em cepticismo e Fé.
– Às vezes gostava de entrar num casulo e sofrer uma metamorfose. – Diria com um tom de voz intelectual como se tratasse de um poema.
– E sair de lá com umas asas!? Isso não ia dar muito jeito a passar nas portas! – Respondias entre pequenos risos.
Eu ria-me também.
– Agora que falas nisso, suponho que tens razão. – Concluía.
Então o teu olhar ficaria distante, fixo algures no infinito. Eu tentaria segui-lo, em vão. Acabaria por desistir.
– Já a mente precisa de evoluir... – Dirias, deixando a frase esquecida a meio, perdida no instante.
Tirarias o teu próprio cigarro, num ritual só teu acendias-o e com o fumo criavas obras de arte que só tu conseguias ver.
Mas o momento chamou a verdade e com ela o que é real: Nenhum de nós fuma.
1 comentário:
Acendias-o?
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