– Acredito no dia de hoje. – Respondi.
– Viver como se não houvesse amanhã? – Perguntou.
– Nada disso. Pelo contrário. Viver todos os dias de forma a plantar um amanhã melhor. Preenchido com histórias, aventuras, sabedoria, magia… Livre das amarras da banalidade.
Riu-se. – Parece palavreado de um livro de auto-ajuda.
– Agora que falas nisso, suponho que sim. – Ri-me também. – Mas não me importo, é nisso que acredito.
– Acreditas em magia? – Perguntou. Os seus olhos adquiriram um brilho cristalino. Típico de quem fica empolgado perante uma aventura.
– Estás a fazer muitas perguntas hoje. – Disse em tom de gozo.
– E tu não respondeste. Acreditas ou não?
– Sim. Acredito. – Respondi desviando o rosto na direcção do céu e observei as nuvens primaveris. A sua beleza parecia saída de uma pintura.
Creio que percebeu que respondi de forma evasiva. Talvez devido a isso esperou um pouco antes de voltar a falar. Possivelmente para avaliar o que ia dizer a seguir. Sabia que não me devia pressionar. Detesto isso. Deu mais um gole na bebida e chegou-se ao pé de mim sussurrando, como se contasse um segredo:
– Sabes, às vezes acho que és um ser mágico…
Respondi-lhe com um sorriso. Creio que compreendeu o meu silêncio. Os seus olhos brilharam ainda mais e as suas bochechas adquiriram um tom avermelhado. Levou novamente o copo à boca numa tentativa vã de esconder o rosto. Corou. Mas não foi de vergonha. Acho que foi de orgulho de ter tido a coragem de me dizer aquilo.
Senti que devia dar-lhe uma recompensa pela sua audácia. Por isso disse-lhe:
– Todos somos mágicos. A maior parte de nós não sabe, nem acredita nisso, mas é verdade. Todos temos magia. Basta perder algum tempo a procurar por ela…
– E como podemos procurar por ela? – Aparentemente as minhas palavras soaram-lhe a frases feitas e pareceu sentir algum desapontamento.
– Essa é a pergunta que todos fazem. – Respondi, fugindo um pouco ao assunto.
– É a pergunta que tem mais lógica. Como podemos encontrar a magia que há em nós?
Reparei no seu rosto curioso e senti uma divisão em mim. A resposta é tão simples que a maior parte das pessoas acha-a ridícula e pura e simplesmente não acredita. Fiquei a ponderar se lhe dizia ou não…
1 comentário:
Nem sempre a magia e o encantamento são a via correcta; depressa passam do fascínio ao aborrecimento.
Nas relações sociais, a primazia está na simplicidade directa do diálogo. Como é tão rara, cativa genuinamente.
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