Nasci triste, de gente triste. Nunca aprendi a festejar nem me ensinaram a celebrar uma vitória. Disseram-me que dançar parecia mal; cantar não era para mim; e rir era uma falta de educação.
Nunca brinquei como deve de ser com medo do julgamento alheio. Os outros estavam lá sempre para apontar o dedo e falar pelas costas sobre a minha conduta incorrecta.
O palco era só para os famosos, viessem eles de onde viessem. Só me diziam que não vinham daqui e que essas coisas eram feias.
Venho de gente malfadada e deles herdei esse fado. Fui forçado a compreender essa verdade, tal como a fadista cantou.
Vejo os outros alegres e vou atrás deles tentando imitar os seus gestos. É só isso. Esqueço-me que para erguer os braços, saltar, gritar e sorrir é preciso sentir entusiasmo. Para mim, isso, é só uma palavra incompreendida, ou até mesmo proibida. A felicidade não se copia da mesma forma que uma criança da escola passa um texto no seu caderno.
Oiço falar de felicidade em todo o lado, seja nos livros, na televisão, nas músicas, nas conversas de café nas mesas ao pé da minha. Mas ninguém me ensina o significado de tal coisa!
Das vezes que perguntei, nunca compreendi a resposta. Talvez tenha questionado os professores errados, já que, me pareceu que estavam tão perdidos quanto eu nessa busca de uma suposta alegria.
Quem sabe se a maior parte daqueles que se dizem felizes, são como eu, meras cópias sem sentir?
Conheci momentos, mais ou menos demorados, de ilusão, que me fizeram sorrir. Só isso.
Agora, sinto falta de algo em mim que nunca foi. Uma lacuna incomodativa que parece frustrar todas as minhas tentativas de ser gente.
Resta-me aceitar aquilo que sou. A melancolia também tem a sua beleza, que o digam os poetas na sua inquietude. Leio-os com algum fascino e compreensão, embora, no fundo, também a esses eu copio, porque me julgo igual a eles no sentir. Talvez até esses sentimentos eu imite. Contudo, se assim for, a cópia parece mais real do que ser aquilo que não sou.
2 comentários:
Vejo cada vez mais infelicidade. Pura,sem copia de nada
A felicidade é uma palavra que ilustra e classifica momentos não a vida contínua. Texto melancólico, acredito que um pouco (ou muito) exagerado, numa questão inicial, mas que, mexe com o ego de quem o lê.
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Um dia feliz. Cumprimentos.
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Pensamentos e Devaneios Poéticos
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