Há um certo cansaço na alma. Não sei de onde vem. Tenho teorias que não servem para nada, para tentar explicar esta fadiga existencial. Diz-me tu, com a tua ignorância sobre a minha pessoa, de onde vem este tormento?
Parece que todos sabem mais sobre mim do que eu mesmo. Por outro lado, eu também pareço saber mais dos outros do que de mim mesmo. Isto eu posso explicar. Acredito que é algo que está embutido nesta coisa de ser português: escárnio, maldizer e opinar sobre tudo e mais alguma coisa. Falamos dos acontecimentos alheios porque a nossa própria vida é uma narrativa aborrecida.
Ouvir os sábios dá-me tédio. Ouvir os ignorantes dá-me nojo. Ouvir seja quem for, sobre o que quer que seja, não me satisfaz. Quero saber mais, sobre todas as coisas, mas não encontro professores à altura. Onde estão vocês com tanto para ensinar?
A escola é uma prisão. Os livros com a matéria explicada são enfadonhos. A escrita no quadro não elucida a vontade de saber. Entretanto esqueço-me deste cansaço que me acompanha. Ou será preguiça?
Procrastinação!
Viste? Escrevi uma palavra 'cara'. Faz-me sentir um erudito. Um daqueles doutores quaisquer que aparecem na televisão a comentar os assuntos com que a sociedade se entretém. Falam num tom de voz sereno, para causar boa impressão. Dão aquela ilusão de autoridade com que argumentam a sua posição, sobre o que quer que seja, ao serem questionados. Já viste essa gente a falar assim na televisão?
Por vezes vejo. Não compreendo ao certo do que falam, embora gostasse de ser dali. Daquela terra onde eles vivem. Um sítio falado. Onde também vivem os outros. Nesse lugar onde eu pareço ser apenas uma miragem.
No entanto, os outros são tão chatos!
É estranho, sabes? Não os suporto, contudo tenho um desejo misterioso de ser como eles. Básico!
Mas, o que importo eu em comparação com tudo o resto? Tenho esta mania insuportável de desejar a Utopia! Para mal dos meus pecados, essa suposta perfeição, só existe nas palavras que transcrevem o pensamento daqueles que ousam fantasiar com o impossível.
Mas afinal, qual é o mal de desejar o impossível?
Não dá para morar nas palavras, nas imagens, ou em qualquer arte que dê vida ao imaginário. Mesmo assim eu estou lá! Sentado num trono feito sem matéria. Rodeado dos maiores prazeres que não existem. A descansar, porque fiquei exausto a fazer qualquer coisa de que não me lembro. Tal como os tolos, sou feliz assim. Será que sou?
Diz-me algo que me alivie a inquietude. Deixa-me uma mensagem com indicações para um porto seguro onde não existam naufrágios. A alegoria ficou bonita mas eu nem sequer navego, só imagino.
De qualquer forma não sei o caminho. Nem sei ao certo aonde estou. Só assim me tenho guiado. Sem destino concreto. Talvez agora esteja parado para aliviar este cansaço. Numa pausa breve. Quanto ao resto não sei.
1 comentário:
Só alguma religião traz sentido à vida. Sou espírita de pouca fé, por isto sofro em busca do sentido de estar aqui agora, neste espaço e tempo. Procuro viver e produzir, ser melhor e evoluir, dá um certo alívio.
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