quinta-feira, abril 22, 2021

Vitória suja

Gente contra mim? Eles que venham! 

Não sou difícil de encontrar no meio da multidão. Não sobressaio entre os demais, não sou como eles cheios me moda. Não tenho nada que seja digno de referência. Basta procurarem o mais distraído. 

Essa gente, se querem batalhar, que venham. 

De vez em quando também é preciso andar à porrada senão uma pessoa fica mole. Só precisam de sentir o cheiro a miséria humana. Se conseguirem atravessar o pântano que eu sou, talvez me consigam vencer. Convém que não tragam roupa muito clara, pode ganhar uma mancha ou outra por causa do terreno enlameado e depois parece mal.

Não me declaro imbatível. Pelo contrário. Até devo cair ao chão com facilidade. Então, se me apanharem pelas costas mais fácil se torna. 

Que venham por trás de mim, atolados no lodaçal imundo. Tenham atenção para não se rasgarem nos espetos dos silvais. Se só conhecem perfumes, não se preocupem, o nariz vai-se habituando aos odores nauseabundos que se estendem por quilómetros nunca contados. 

Que venham pela mansinha para que não os oiça. 

Contudo, quase nunca querem vir. Mesmo a convite e de guarda baixa. Se a lonjura não os demover, certamente a profundidade da lama vai engoli-los até às profundezas do desespero. Eles não querem vitórias sujas. Desejam coisas fáceis que fiquem bem nas palavras aborrecidas dos discursos. 

De vez em quando lá aparecem alguns, que na brutalidade vinda dum instinto qualquer lá me conseguem bater com golpes violentos de um ego sem força. Nesse caso dou-lhes a honra de me levarem de vencida. Gritarem, para que o mundo inteiro oiça, uma vitória grandiosa contra nada!


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