Gente cadáver.
Passeiam pela terra a consumir os louvores que pertencem aos vivos. Lá estão eles, em cima de palanques, a fazer discursos com palavras caras e vozes animadas. Recebem aplausos e são idolatrados por figuras vazias tal como eles.
Outros estão cá em baixo. Abusam da liberdade que têm porque não sabem o quanto custa merecer esse direito. Cospem, esmurram e pontapeiam o bom-senso. E ai de quem ousar contraria-los. Vitimizam-se sem fim, excluindo qualquer tipo de razão, a não ser a sua própria arrogância. Tanto faz que seja errada, é a que lhes convém e por isso é assim que deve ser.
Vão se multiplicando. Alastram como uma praga e apagam aos poucos o sentido que o mundo tinha. Promovem a falta de instrução, cultura e fantasia. Só desejam o fácil e a inutilidade de uma existência básica. Um parasita tem mais propósito do que gente assim. A evolução está posta em causa por causa do egoísmo de quem não tem olhos para mais nada que não seja a própria ignorância!
Têm votos; têm audiências; têm propaganda; têm leis; têm defensores! Têm, sobretudo, a consciência tranquila! Trocam o justo pelo injusto! Rodeiam-se de labirintos burocráticos, politicamente correctos, cheios de palavras caras. Repudiam veemente qualquer forma de protesto que envolva o mínimo de agressividade: consideram, eles, este comportamento indigno, mesmo vindo de quem foi roubado da sua dignidade!
Deste lado estamos nós. Derrubados pelo nosso cansaço depois de um dia de labuta. A dar uso aos nossos estudos e honestidade, em troca de pequenos fragmentos de vida, que vamos sugando à sociedade como mendigos famintos. Resignados, basta-nos o entretenimento de domingo à noite e o maldizer da segunda-feira. Achamos inútil o protesto, entorpecidos pela fadiga que nos derruba.
Queremos voar mas as asas não batem. Atrofiaram pela inércia e tentar abri-las torna-se um esforço insuportável. Eles mandam! Não constam das fileiras dos vivos mas mandam! Isto, porque nós obedecemos, apesar da nossa revolta. Somos estúpidos! No sentido mais submisso da palavra. É esta a nossa vergonha…
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