O vampiro apaixonou-se. Aconteceu com a brandura e a leveza de uma simples brisa. Até um monstro pode amar quando a serenidade assim convida. É tão difícil resistir a um rosto com luz própria!
Deus criou a perfeição no olhar de quem cora facilmente. É impossível suportar o arrepio que emana de uma troca de olhares; sorrisos que nascem tímidos pelo canto da boca; o riso contagiante de uma piada tola. Não há como resistir a uma alma cheia de vida!
Há também a beleza e a jovialidade. A pele perfeita de quem ainda não sentiu a amargura do viver. Os sonhos imaculados de quem acha que ainda pode mudar o mundo. A magia de uma alma gentil!
Como é que o vampiro não se podia apaixonar? Ainda que o amor fosse breve e frágil como uma flor que perde as pétalas, a atração é mais forte do que a natureza. O calor mais urgente do que a noite. O amar, mesmo que efémero, mais intenso do que o vazio!
O martírio chega no amanhã e na banalidade que cobre o ser. O cansaço da rotina, do mesmo corpo, do mesmo poema, do dia que está tão longe. Sai vencedora, como sempre, a perdição dos filhos da noite, ao enganar a inocência com o brilho feiticeiro da lua!
O vampiro esqueceu-se que afinal a paixão era mentira. Não tinha esse direito, reservado aos filhos do dia. Deixou-se encobrir na escuridão e no esquecimento. Mas não sem antes reclamar o sangue quente da jovem que o iludiu com esperança!
A voz terna, que antes encantava, deu lugar a um grito desesperado. Como quem sente o mergulho no terror mais absoluto do abismo. Esse é o tormento de quem perde a sua fantasia pelas mãos daqueles que se alimentam do sonhar dos outros!
O vampiro bebeu até se saciar. Saboreou ideais, viveres e amanhãs, para que nos seus dentes tudo se calasse. Um monstro merece o seu prémio depois de sentir o cheiro da luz. Depois tudo volta ao silêncio e a um secreto devaneio, que talvez um dia possa amar…
2 comentários:
Só um ser inocente pode achar que consegue mudar o mundo...
As criaturas da noite, solitárias e malditas, têm ao seu alcance apenas a paixão carnal. Qualquer outra lhes é interdita, pois que não possuem alma e coração.
Por vezes, naqueles momentos muito negros, penso que é a condição perfeita; livre de dor e sofrimento. É quando me banha a luz, quando tenho real noção da minha humanidade, que sei que não é verdade. Quem lhes dera essa dor, esse sofrimento! Têm-nos à sua maneira, porém vazios e estéreis.
Há muito que não publicavas sobre este tema que, como sabes, é dos meus preferidos. O texto está, claro, delicioso. E o gif é um sussurro doce, convidativo... Como resistir?
Boa tarde. Visitando, lendo e elogiando o seu bonito blogue.
Imagens e prosas fantásticas,
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Meu blogue: http://brincandocomaspalavrass.blogspot.pt/
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Deixando cumprimentos poéticos
Votos de um feliz fim-de-semana.
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