O homem sentou-se e da mala que trazia consigo tirou uma viola. Ele devia ter à volta de cinquenta anos, tinha o cabelo comprido salpicado pela cor grisalha e a barba já não via uma lâmina há algumas semanas. A sua roupa estava desgastada, certamente pelo uso constante. A sua figura de mendigo contrastava com o sorriso que emanava do rosto e do brilho no seu olhar. Era visivelmente feliz.
Tirou também um pau de incenso que colocou a queimar entre as cordas da cabeça da viola. Então respirou fundo e com as suas unhas longas começou a dedilhar uma melodia fantástica. Parecia que vários instrumentos tocavam em simultâneo. A música tinha tanto de belo como de sobrenatural. Era um som mágico, hipnotizante, sedutor, que despertava sensações arrepiantes de fascínio.
As expressões faciais do homem davam a entender que estava a ter uma conversa com alguém através daquela melodia mágica. Ora se mostrava empolgado como se contasse uma aventura, ora amargurado como se lhe contassem algo triste, ora emocionado como se tivesse a fazer uma declaração de amor. Por vezes parecia desenhar sussurros nos seus lábios, que acompanhavam as notas encantadoras que raiavam das cordas da viola.
Que estranha conversa era aquela? Com quem falava ele naquela linguagem feiticeira? Seria com a natureza que o rodeava? Com a alma da floresta? Com os espíritos que assistiam àquela melodia encantada? Ou seria apenas a loucura de um génio a conversar com ele mesmo num momento de criatividade divina? Decidi que não quero saber a resposta. Há coisas que não se explicam e devem permanecer assim na memória. Envoltas num cenário de magia…
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