terça-feira, dezembro 09, 2025

Entre


Eu sou uma espécie de sonho,

mais ou menos recorrente,

que acontece ocasionalmente,

entre o adormecer, o acordar e o viver.


Eu sou uma espécie de ilusão

Filho de uma natureza diferente, 

quem sabe até inexistente,

entre o desejar, o imaginar e o sonhar.


Eu sou uma espécie de desconhecido. 

Habito num mundo distante, 

onde a lógica é irrelevante,

entre o compreender, o inventar e o saber.


Eu sou uma espécie de artesão, 

continuadamente descontente, 

intensamente inquietante,

entre o rimar, o existir e o desassossegar...


Epílogo:

Eu sou uma espécie de enigma!

Entre mim.

Entre os outros.

Entre as forças que fazem o universo girar!


terça-feira, novembro 25, 2025

A poesia é o momento

Dá-me versos com sentimento. 

Se te peço um poema, faço-o por vício de viajar em mundo alheio.

Uma visita guiada entre o extraordinário e o rotineiro.

Palavras pintadas como paisagens cantam beleza num horizonte cheio.

A sinestesia violenta dos sentidos ansiosos pelo paladar de um devaneio.

A poesia é o momento. 

A rima nasce do instante onde o pensamento grita e o papel serve de parteiro.

Letras desenhadas pela anarquia metafísica com a cor inquieta do tinteiro. 

Declaro-me mendigo a suplicar uma esmola em forma de verso verdadeiro.

Não negues esta oferta caridosa a quem tem fome de um universo inteiro.

Pois numa estrofe cabe o firmamento... 


quinta-feira, julho 31, 2025

É já amanhã, 20 anos!

Pois é, é já amanhã dia 1 de Agosto! Este espaço faz 20 anos! 

Estou numa fase em que não tenho tido motivação para escrever. Às vezes acontece. Não sei quanto tempo vai durar, mas este ano não tem sido produtivo a nível de escrita. Nem tem de ser. Afinal de contas isto é só um recanto onde eu brinco com as palavras. De qualquer forma fico muito contente por ele existir e por todas as coisas escritas que aqui vou deixando. 

Quase todos os anos assinalo esta data com esta música e faço disso um ritual agradável. E já lá vão 20!

Deixo um abraço a todos que descobrem este canto e decidem comentar! 

Feliz dia 1 de Agosto para todos!

terça-feira, abril 22, 2025

Só mais algumas palavras de desabafo


Escrevo estas palavras com tristeza. Solidão, saudade, melancolia. Adjetivos nefastos, todos a orbitar a mesma estrela decadente.

Não sei quem sou. Ou talvez seja exatamente o contrário. Reconheço em mim um desânimo próprio de quem se entrega à letargia e por isso incomoda-me ser gente.

Posso ainda ser um reflexo do mundo que me acolhe como um ventre amaldiçoado. Vejo os outros e não me encontro. Não há vozes de alento, nem rostos de gentileza. 

Procuro, mas não descubro uma resposta digna da minha atenção. É sempre o mesmo. Repetido até à exaustão. Dito com frases diferentes para parecer novo. Não há alma nas coisas iguais.

Mas procurar cansa. É mais fácil desistir. Encontra-se algum conforto quando se está a dormir. Não vale a pena perder tempo quando há falta de esperança.

Sobra uma fome de companhia impossível de saciar. Um apetite esquecido no passado de quem já tentou sonhar. Não há alento no vazio e por isso rimo sem amar.

Escrevo estas palavras com dureza. Fadiga de fim do dia. Desabafo sem alegria. Cansaço de quem não consegue descansar. 

No fundo, ainda acredito no amanhã. Nascer do sol a raiar. Primavera a florir. Depois, ao acordar, isto possa ser apenas mais um poema, fruto de um momento frágil, onde me deixei desmotivar. 


domingo, abril 20, 2025

A arquitetura dos glúteos


Dentro da minha mente existe uma dimensão compacta. Nela encontram-se espaços tridimensionais em tudo semelhantes à nossa própria realidade. No entanto, libertos do tempo linear como o conhecemos. É aí, onde guardo inúmeros museus, cada um de grandes dimensões, dedicados às mais diversas formas de arte. 

Um deles tem como tema fundamental a anatomia feminina, com foco principal no traseiro. Tendo em conta o facto de tudo poder e dever ser analisado por um ponto de vista artístico, não podia deixar de edificar um monumento capaz de enaltecer esta característica da qual tanto sou apreciador. Assim o fiz!

Fadado pela minha heterossexualidade, não posso impedir os olhos de se fixarem nos glúteos mais arredondados. Suponho eu, ser a natureza a orquestrar os seus desígnios para a continuidade da espécie. Mas como posso eu limitar esta sensualidade a meros impulsos biológicos se a humanidade não me basta?

Encorajado pela minha memória fotográfica, guardo as nádegas mais perfeitas que observei até hoje. Seja em fotografia, escultura, pintura, poesia, mas principalmente, movimento. Uma mulher com rabo grande, sem passar das medidas exageradas e curvas bem desenhadas, é uma obra de arte viva. Merecedora de grandes multidões e todos os aplausos. 

Eu, sem querer ser arrogante mas sendo, considero-me um apreciador exímio de traseiros delineados com mestria. E faço questão de o mostrar ao mundo sem qualquer pudor! Até mesmo com a intenção de elevar este estilo de voyeurismo à categoria de contemplação plena desta majestosa obra prima, que é o cu de uma mulher!


sábado, março 01, 2025

Estudem, façam sucesso e mostrem ao mundo


Acertou em cheio! Disparou com mestria a fisga de infância. Uma pedrinha arredondada não falhou a nádega esquerda da irmã!

Pobre coitada! Soltou um berro esganiçado. Saltou, enquanto levou as mãos ao traseiro na esperança de aliviar a dor inesperada. De imediato, tornou-se o centro da atenção dos convidados. Para piorar, despejou o champanhe em cima da senhora com quem conversava. Mais um grito. Ainda por cima, desequilibrou-se e partiu um salto.

Depois da surpresa inicial, os presentes começaram a rir. (Vamos ser francos. Teve piada!) Não tardou até uma gargalhada colectiva tomar conta do jardim. 

Já ela... Sentiu tanta vergonha! Aplicou-se ao máximo para organizar aquela festa na casa dos pais, da vila do interior onde passou a meninice. Comprou um vestido de gala, junto com uns sapatos lindos. Arranjou o cabelo. Não poupou, nem dinheiro, nem esforços. Transformou-se numa mulher de sucesso na cidade e fazia questão de mostrar àquelas gentes isso mesmo.

Agora estava no chão. Gozada por todos. Ficou furiosa. Olhou para cima e viu o irmão a rir como um desalmado na janela do quarto. Aquela brincadeira não ia ficar impune! Já não era uma miúda franzina para suportar as humilhações das travessuras dele. Não tinha idade para chamar os pais para virem em seu socorro. Nem um valente puxão de orelhas ia resolver a situação. Era tempo de se vingar!

terça-feira, fevereiro 25, 2025

Viagem para o trabalho


Certos acontecimentos deviam trazer um rótulo com a indicação: 'mau augúrio'. A sério, um grande letreiro com sinal de aviso. A vida não vem com instruções e as pessoas não sabem interpretar estas coisas.

Naquele dia fui trabalhar mais tarde duas horas. O comboio daquele horário estava muito mais vazio em comparação com a hora de ponta. Sentei-me tranquilo num banco sozinho. À minha frente estava apenas uma senhora entretida a tricotar. 

Ao contrário dos outros dias, onde estava rodeado de outras criaturas ensonadas, cujo dever laboral obrigava a encher o vagão, pude observar o cenário do trajeto. Vilas, casas, campos, pessoas, foram alvo da minha atenção através do vidro, já debaixo do sol do meio da manhã. Era agradável viajar assim. 

Perto da última estação antes da ponte vi um grupo enorme, com cerca de cem crianças. Pela aparência faziam parte de um jardim de infância. Tinham entre três e cinco anos e vestiam um bibe colorido. Corriam entre brincadeiras despreocupadas num descampado. Algumas mulheres olhavam para elas com aspecto zeloso. Até aqui tudo normal.